domingo, 12 de outubro de 2014

Comida de rua e o glamour sobre rodas

Comida de rua é mais do que aquele podrão salvador da madrugada, o bom e velho cachorro quente com salsicha desconhecida, ketchup e mostarda sem validade definida, milho, ervilha e passas (eu gosto). Ou o churrasquinho (que faz miau quando você morde) da esquina, com aquele cheiro sedutor de gordura. Ou o hamburgão do seu Zé. Ou a pipoca cheia de margarina. Ou a coxinha com nervo de frango.

q delicia cara

Enfim. Comida de rua é tudo que é de alguma forma, móvel. A pessoa leva o carrinho de comida para a esquina, e lá ele/ela tem a clientela definida. Todo mundo conhece, todo mundo já comeu.

Pelo menos era o que a gente conhecia como comida de rua até pouco tempo. Como em todos os modelos de comércio, muita gente viu a oportunidade de ganhar dinheiro com algo mais... arrumadinho. O alvo era belo e empreendedor, norte-americano, promissor como a Terra da Liberdade. Daí aportou o novo barato brasileiro: o food truck.

made in usa

Nos Estados Unidos, food trucks são ótimos negócios desde meados dos anos 2000. Em cidades como Nova York, é possível encontrar os caminhões em várias esquinas, desde que você tenha disposição para andar. Mas, querendo encontrar um caminhão específico, todos possuem contas de Twitter, em que você descobre sua localização rapidamente. Existem também aplicativos para celular que usam a sua localização para indicar os food trucks mais próximos.

Mas, voltando à busca da oportunidade de glamourizar a comida sobre rodas, o modelo americano é realmente muito lindo e fofo, só que duas coisas facilitam sua implementação lá: encontrar caminhões usados e, algo que não conhecemos bem, menos burocracia na hora de abrir um negócio.

Mas brasileiro sempre encontra a brecha. Ao invés do caminhão fofo-estilo-ônibus-escolar-amarelo, a boa e velha Kombi aparece como solução.

Kombosa Shake, rodando em SP.

São Paulo foi a primeira cidade brasileira a aceitar os food trucks de braços abertos. Como uma cidade com uma dinâmica gastronômica avançada, nada mais normal do que isso. Já é possível visitar parques de comida, com diversos caminhões fofos, e altamente funcionais.

O grande barato do food truck é: oferecer uma quantidade reduzida de opções de comida por um preço mais baixo do que os restaurantes. Nada mais justo. É um ambiente pequeno, com poucas pessoas, que oferece um alimento diferenciado pra um grupo realmente interessado.

Só que, como tudo no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, as pessoas não conhecem bem o conceito de "preço baixo/produto oferecido", e muitos caminhões ainda oferecem comidas por um preço pouco acessível. Não considero R$20,00 um preço justo por um cachorro quente "gourmet". E isso eu pude conferir de perto em um final de semana de outubro, em uma das poucas (dá nem pra contar nos dedos de uma mão AINDA) feiras direcionadas aos "carros de comida".

A Feira Planetária na Gávea foi a primeira a trazer food trucks pro Rio de Janeiro, sendo que muitos vieram de São Paulo para a primeira edição, em setembro. Alguns caminhões já estão fixos na cidade, mas só podem funcionar em eventos fechados, como essas feiras. Na Barra da Tijuca já teve uma edição do Chef Mix Gourmet com muitos dos carros que vão virar figurinha fácil nas feiras pela cidade.

Feira Planetária de outubro

Feira Planetária de outubro

A expectativa é que até o final do ano mais carros entrem no circuito das feiras. É bom lembrar que existe um projeto de lei para legalizar os food trucks na cidade, que existam pontos fixos para os carros, parques gastronômicos, e maior controle sanitário sobre as comidas.

Como já conhecemos pela tradição carioca, a maioria desses carros de comida devem procurar se estabelecer pela zona sul da cidade, no máximo até a região da Tijuca, Centro, e, se muito, na Barra da Tijuca. Mais uma vez a zona oeste da cidade ficará submetida ao bom e velho podrão (amo/sou).

Vale a pena ressaltar que muitos carros de comida no Rio de Janeiro já são de restaurantes estabelecidos e isso pode criar uma competição desleal, entre novos empreendedores, que é a maioria que se aventura pelo food truck (mais barato do que abrir um restaurante físico/fixo), e restaurantes respeitados buscando um espaço no hype.

Food truck do Venga

Mas isso só o tempo e a recepção dos cariocas dirá. Pelo menos nos últimos eventos as pessoas compareceram em peso, consumiram muito e adoraram a ideia. Isso só prova o quanto o carioca está carente por eventos de gastronomia.

Fica a dica para quem ainda não conseguiu ir a algum dos eventos: fique ligado nas páginas do Facebook do Chef Mix Gourmet e da Feira Planetária, as duas feiras que já aconteceram e que prometem ser mensais.

Para quem é de São Paulo, ou visita a cidade, vale a pena conferir o Butantan Food Park, aberto todos os dias, com muitas opções de comida em caminhões ou barraquinhas. Já existem outros estacionamentos pela cidade, vale a pena pesquisar.

A dica é também literária. Para quem gosta do tema, o livro "Guia Carioca da Gastronomia de Rua" do Sérgio Bloch é maravilhoso, e lista diversos profissionais da boa e velha comida de rua, aquela que a gente conhece muito bem.

Então, se a cara estiver boa: COMA.

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